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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Algumas palavras…

Por Anderson Tomio

Renovação

O fim de tarde anunciava no céu uma tempestade. As nuvens negras vieram de tal forma, repentinas a cobrir tudo. Clarões, raios e trovões avisavam que muita água estava por vir. Corri, tentei ser o mais rápido para chegar em casa antes da temida chuva. Não foi possível! Os pingos grossos de chuva desceram todos ao mesmo tempo, e já via tudo alagado. Sob a marquise eu observava o rio que se formava em direção ao bueiro. E logo este já estava encoberto, submerso num mar de lamas. Subi o pequeno degrau da porta de uma loja, na esperança de preserva-me ainda mais das águas, mas vi meus pés irem ficando ilhados, molhados, e totalmente dentro da enxurrada. Lamentei-me em pensamento porque o tênis era novo, eu ainda tinha algumas prestações pela frente, mas ficou irreconhecível. À medida que eu, estático, observava a destruição, ouvi um forte estrondo. A lama juntamente com os escombros de várias casas desceu ladeira abaixo. O teto onde eu estava caiu. Fiquei alojado sob uma laje, mas a água chegava a meu rosto, quase me impediam de respirar. Eu precisava fazer algo. Tentei me mover forçando meu corpo sobre o entulho que me cobria e gritei. A dor física era ínfima perto de meus pensamentos que previam minha morte. Pensei em tudo, família, amigos, trabalho, um filme passou diante de meus olhos. Um bom filme, mas mesmo assim adormeci. Durante um tempo só ouvi lamentos, gritos e o som assustador das águas que carregavam tudo a sua frente. Fiquei imóvel, meu corpo paralisou, e minhas ultimas forças pensei em minha mãe, e lhe disse no silencio, Eu te amo!Fique com Deus! Tudo escureceu, seguido de um cinza que embaçava minha vista e nessa hora pude perceber o quanto tinha chovido, o quanto tudo foi devastado e me dei conta da tragédia que ocorreu. Não lamentei, mas entristeci presenciando tudo aquilo. A chuva era intensa, o frio tomava conta de mim, mas eu já estava seco, observava agora como espectador, passando a ser um ator desconhecido, perdido em meio a tantos outros. Minha situação já era outra, e antes que eu pudesse fazer algo a mais por tudo que ocorrera, mãos me puxavam, uma luz não muito forte me envolveu, e me senti não mais tomar conta de mim, eu estava sendo guiado. À medida que eu deixava de presenciar tudo aquilo um silencio tomava conta de tudo, só via imagens, turvas agora, e o som não mais chegava aos meus ouvidos. Passei a ouvir outros, uma forte ventania, gargalhadas e gritos, coisas que seriam normais em um manicômio, me percebi num, me vi louco, agia como tal, mas no fundo ainda não perdera minha consciência. Fui percebendo, fui aprendendo, que a loucura que eu achava ter era na verdade um relaxamento que minha foi. Descuidei de mim, tive alguns vícios, por inúmeras vezes minha família e as pessoas que eu realmente amo e me amavam, eu as coloquei em segundo plano. Via-me independente. Mas percebi que a independência é a dependência anônima e silenciosa de querer mostrar ao outro que ele não está sendo importante no momento, mas que é essencial para o meu crescimento. Complexo, louco, mas compreensível na medida em que eu me deslocava cada vez mais para dentro de mim e meus olhos contemplavam cada vez mais minha vida, o que fui, o que fiz e o que não fiz. Nada ocorreu sem sentido pra mim. Mas não posso afirmar por todos. Cada qual sabe o que fez na vida, em que tempo precisava “acordar” de outra forma para entender o que vinha fazendo. Coletividade! Penso que as coisas ocorrerem por um motivo e estes não são banais. Mas agora me recolho, contemplo-me na minha “loucura” e entendo cada parte da minha vida, de sanidade e insanidade, mas única, as minhas vidas!

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O texto acima, escrito em 17/01/2010 às 20:14h tem o  tom de carta, me veio em mente na tentativa de escrever uma história, mas deixei fluir todos e quaisquer pensamentos que sucederam. Quero ainda acrescentar que através deste, manifesto meus sentimentos a todas as famílias que direta ou indiretamente foram atingidas pelas chuvas na região serrana do Rio de Janeiro, nesta semana. Que o conforto e a luz divina se façam presentes em cada uma delas, que o entendimento possa surgir, acalentando corações que hoje choram, mas que precisam tem forças pra continuar vivendo e voltar a sorrir amanhã. Que o sol se faça presente na vida de cada uma, ele mesmo o astro rei, e o “sol” de luz, de paz e amor sobre todos. Que assim seja!

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DOE – DOAR FAZ BEM! FAÇA A SUA PARTE! LEVE  ROUPAS, CALÇADOS, PRODUTOS DE HIGIENE PESSOAL, FRALDAS DESCARTÁVEIS, LEITE EM PÓ E PRODUTOS DE LIMPEZA, AO CORPO DE BOMBEIROS DE SUA CIDADE, PREFEITURA OU ENTIDADE ORGANIZADORA DAS DOAÇOES – SOS REGIÃO SERRANA DO RIO –  OU INFORME-SE  DO LOCAL MAIS PRÓXIMO ONDE VOCÊ PODE AJUDAR. NÃO É DIFICIL,BASTA QUERER!

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Imagem original: alcindoalmeida.blogspot.com

2 comentários:

  1. É Anderson.. neste momento é necessário a nossa contribuição e orações para amenizar um pouco todo o sofrimento que essas famílias estão passando.
    Beijocas em seu coração...
    *verinha*

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  2. se todos tivessem esse espirito de solidariedade, talvez a tragédia não tivesse sido tão grande, parabéns :)

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