Não saberia dizer se nesse ponto a natureza é sabia ou nos prega uma peça criando uma lacuna no tempo,
Nascemos do ventre, somos pegos no colo, e o primeiro
registro de teu rosto e de teu sorriso eu não consigo lembrar. Você lembra
desse momento, já com alguns anos a frente, a memória te permite registrar os
marcos da vida, e ter nesses momentos memorias de felicidade.
Como eu gostaria de saber como tu eras e como foi a sensação
que senti ao mudar de tua barriga, teu ventre, para o teu colo. As primeiras
mamadas, as trocas de fralda, o soninho com soluço, pra mim tudo novidade que
se apagou no tempo, para você mãe, memorias de um novo filho que geraste e proporcionaste
a vida e o mundo.
Que missão! Que entrega! Mudar seu ritmo, alterar seu corpo
e ainda assim ser tão amado, com um amor que não se mede, não há como calcular,
mas é infinito, amor de mãe e filho e de filho e mãe.
Quanto amor, quantos momentos, de riso, de choro vivemos
juntos. O tempo nos presenteou com a convivência, e podemos nos ter por anos,
eu sendo teu filho e você sendo minha mãe.
Quanta gratidão eu tenho e quanta felicidade sinto por ser
teu filho, por você ter sido minha mãe e mais ainda, se me dessem a
oportunidade de escolher uma mãe, te escolheria tantas vezes fossem possíveis,
porque foste cuidadora e amorosa, rígida e educadora, mas que me deu valores,
força e me fez ser o que sou, tendo em ti a inspiração de pessoa batalhadora.
Nunca desanimaste, mesmo com os percalços da vida, vi sempre
você se manter forte, ser otimista e não me lembro de te ver chorando diante de
uma dificuldade, mas sim tendo fé e sendo perseverante que seria apenas uma
fase e que logo seria vencida. E você tinha razão! Venceste tantas que derrota
não existia na sua vida. Tudo era conquista, força e vitória.
Me lembro de tanta coisa que vivemos, de tantos momento,
desde o mais simples como você me pondo um café ao de ocasiões especiais. Mas
aqui corrijo, todo momento é ocasião especial! Se aprendêssemos isso mais cedo,
a vida seria tão mais cheia de momentos marcantes do que somente aquela data
circulada no calendário.
Viver é um momento especial! E é triste quando nos damos
conta disso de forma tardia, quando os momentos cessam e ficam somente as lembranças.
E pensar que os pais criam os filhos para cresceram e serem
independentes e seguir seu caminho na vida. Sair de casa, morar sozinho é o ápice
desse desenvolvimento. É bom, amadurece, nos faz crescer. O que não sabemos é
que a partir desse estagio, a convivência fica fracionada, se torna dose em
conta gotas, de uma passadinha lá , de um final de semana ou de um passeio.
Isso depois faz uma falta, os anos avançam e quanto tempo diário deixamos de
viver? Temos a presença, sabemos onde está, mas não vimos como você acorda, como
passa o dia, que novidades e conversas teve, e mesmo, deixamos de receber o
carinho diário no sorriso e na voz terna do bom dia. Quanta falta faz esse
tempo e quão valioso ele é quando percebemos que cada minuto que podíamos estar
juntos.
Os pais não deveriam criar os filhos para alçarem voos e
sair pelo mundo, mas para saberem voar e ir até ali e logo estar no ninho,
viver juntos as descobertas e conquistas da vida. Seria estranho, poderia, mas
no quesito convivência e aproveitamento da presença dos pais pertinho seria incalculável.
Mas crescemos e queremos voar! Os pais também sentem orgulho
desse momento e que mostramos que aprendemos e alçamos voos.
Ai que saudade eu sinto! E que tantos porquês eu penso, que
poderia isso, e aquilo, mesmo estando perto, vivenciando muita coisa, não era
integral. As lacunas hoje fazem falta, os momentos cheios também fazem e um
espaço ficou sem ser completado.
A vida! A chegada da morte e a finitude dos presentes! Do
presente do dia a dia e toda uma existência que poderia ser mais longa.
Ah minha mãe, nossos momentos não serão esquecidos e a
medida que o tempo passa, as memorias parecem ficar distantes e novas não são
criadas, eternizamos em nós o que era nosso, a nossa vida, eu sendo seu filho, você
sendo minha mãe.
Saudade é uma palavra que gostaria de agora contrariar e
trocar por presença, como sempre foi, mas agora é saudade, de falta, de ausência
física e de teu olhar terno.
Gratidão mãe! Te amo!
Que o céu esteja sorrindo com sua presença!
*27/10/1947 + 17/08/2025