Anderson Tomio
Antes de marcar nas veias da celulose
O que viera a ser papel, papiro, base de meu pensar,
eu já escrevia pelo tempo o que viera a dialogar.
Antes do pingo, o respingo da letra que surge,
da palavra que nasce com medo, silencia pra dentro do peito
e não ousa ecoar, antes dela eu já estava,
perdido no tempo, vago no espaço
criando no dia e na noite os versos a declamar.
Palavras que vem, pensamentos que se vão, partem,
repartem-se e criam e recriam num breve aprimorar.
Palavras que buscam o toque do ouvido alheio,
que saem do coração, do seio, num afago de um ninar.
Ontem que era primavera em flor,
num botão de mero sorrir, abre-se em sorriso flor,
falando aos ventos e cantos, cantando ecoando no espaço
as vestes da língua a dizer.
Antes que o verso- se tornasse rima,
que o verso enamorasse a prosa,
o amor já compunha o trecho,
palavras polidas, o seixo do sentimento
que desenrola, rola por entre os dentes
na busca de um repente, na rima do meu viver.
E o dia se finda a noite,
veste-se de muitas estrelas, no breve repousar,
que silencia e acalma o céu,
que vibra com o vento e eu respiro,
da boca que céu capela,
num sino a tocar.
Palavras de pouco brio,
bem puras feito o orvalho,
que escorre por entre veste que é do meu ser.
Vive, planeja e cumpre,
todo o curso, em breve discurso,
de palavras que é viver.
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imagem:http://listasliterarias.blogspot.com/2011/07/10-curiosidades-sobre-carreira-de.html