Quando desci a ladeira senti o peso do corpo sobre os meus pés,
Era como se todo o mundo estivesse sobre meus ombros e eu
sentia que carregava ele com todo cuidado.
Diminui os passos, fiquei mais lento para manter o equilíbrio,
mas o peso parecia ter aumentado.
Ficar parado, diminuir a velocidade, não era melhor forma
aliviar tudo que estava carregando.
Era o mundo, o meu mundo!
Tantas coisas me vinham a mente, algumas emergiam com tal
força que era como se eu fosse puxado pra cima com elas, outras iniciavam o
movimento de flutuar e assim aliviar o peso que por hora meus pés estavam
carregando. Sobre eles eu levo tudo, o
mundo, eu e todas as bagagens de vida contidas nas cicatrizes e pensamentos.
Os sentimentos vão em uma capsula quase secreta, mas não ficam de lado, está junto.
É praticamente impossível escolher o que levar, umas
entrelaçadas as outras, algumas inteiras, outras em fragmentos, mas fazendo
parte do carregamento.
Procuro por um segundo me dispersar na paisagem, sorrio de
forma tímida ao ver o horizonte, com ele vem alentos de planos e a vontade que
carregamentos futuros sejam diferentes.
Viro a esquina, a ladeira fica pra trás e agora o cruzamento
me espera em saber para qual das direções irei tomar.
Qual o rumo e o que continuarei levando comigo?
Há o sabor do vento que teimosamente quer me inclinar para
um dos lados, há o peso da carga que faz oscilar entre um e outro.
Para onde?
Paro por um instante, reorganizo a bagagem, arrumo cada qual
em um lugar, uma bem próximo da abertura outra dobro por diversas vezes e as
escondo bem no fundo da mala.
Há coisas que deixamos a mostra, outras é preferível deixar
no fundo, onde o escuro e o mofo as façam perder a importância.
Caminhos! Trajetos! Percursos!
Sinônimos de um destino, sinônimos de escolhas.
E agora quase cansado, mas resistente, resiliente, ouso
olhar para trás.
A ladeira que parecia íngreme, era apenas um pequeno aclive,
a rua que parecia ser fim e estreita era na verdade uma grande avenida.
Ah e o cruzamento? Lá era uma das praças, local de alento,
de encontro e onde nos permitimos redirecionar, reorganizar e seguir,
Sentar à beira do caminho, somente se for para reapertar os
calçados e retomar o folego.
Ir além, continuar e seguir caminhando sem desistir de
continuar a busca, a soma e ganhando força para novos pesos, novas bagagens e
ares que nos faça flutuar.
A vida!
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